Hoje minha mãe me contou de um roubo que houve na cidade e deu no noticiário do rádio. Relatava que um homem deixou seu carro aberto, "aberto" no sentido de "não trancado" e não "aberto" de "portas escancaradas", e foi realizar uma tarefa por perto. Ao retornar o mesmo verificou que seus documentos e uma quantia em dinheiro que se encontravam no interior de seu veículo haviam sido furtados, surripiados, afanados, enfim levados por algum meliante. Não sei ao certo o que aconteceu depois disso, certamente, foi a delegacia fazer uma ocorrência e tal.
É claro que isso aqui não é um blog de ocorrências. Conto esse fato por que me incomodou o modo como foi tratado o crime.
- Mas também, né. Pediu pra ser roubado. Deixou o carro aberto.
Vixe! E é crime deixar o carro aberto? Será que não é o ladrão quem estava errado? Ou agora a lei é outra?
Não é a primeira vez que eu vejo alguém justificar um crime e dizer que a vítima é quem estava errada. E se a vítima reage aí é que piora tudo. Imagine a cena:
O Sujeito, depois de conseguir segurar o ladrão que fugia com seu celular e dar-lhe uns bofetões por tentar resistir, leva o meliante até a delegacia.
- Então quer dizer que o senhor foi roubado?
- Sim senhor Delegado. Por esse vagabundo aí.
- Esse "cidadão" o senhor quer dizer, não é. Olha, eu não quero ser processado por discriminação, estamos entendidos.
- Sim senhor.
- E de onde ele caiu?
- De lugar nenhum...
- E por que diabos ele está todo arrebentado desse jeito? Foi atropelado então.
- Não, senhor Delegado. Fui eu quem bati nele.
- O senhor?! O senhor não sabe que isso é serviço da policia. E tem mais, eu não quero ter problemas com os Direitos Humanos, tá.
- É que ele estava fugindo com meu celular e eu consegui alcança-lo. Ele me ameaçou, mas eu reagi...
- Reagiu?! O Senhor não sabe que é extremamente perigoso reagir a um assalto? Nós não temos informado para que todos sejam gentis com os assaltantes e ladrões?
- Mas, ele tentou levar o meu celular
- O senhor nunca ouviu falar de inclusão digital?
- Sim, já. Mas o meu celular...
- O que tem o seu Celuar meu senhor? É mais importante que a vida desse moço? Sabe quanto isso vai custar para os cofres públicos? Muito mais que o seu celular. E é você, contribuinte, quem vai pagar.
- Tudo bem...
- Tudo bem não senhor, por que eu também sou contribuide e esse cidadão aqui ao qual o senhor agrediu, também é um contribuite. E todos nós vamos pagar pelo seu erro, meu amigo.
- Meu erro?! Mas ele me roubou o celu ...
- Se insistir nesse assunto de celular eu mando prender o senhor por obstrução da justiça.
- Ah tá! E o ladrão é quem tá com a razão então?
- Olha aqui, se manda daqui antes que eu mude de idéia e deixe o senhor hospedado por aqui. Tá entendendo.
- Sim senhor, mas e o... "cidadão" aí?
- Pode deixar que eu resolvo viu. O Fonseca, leva esse rapaz aí lá pro hospital pra fazer uns curativos nele. Depois libera ele.
- HUMPF! E mais essa agora.
- E, aqui ó, toma esse dinheiro, compra um lanche e dá pra ele, que ele tá com uma cara de fome danada. Né não?
- E o meu...
- Pra o senhor não tem lanche não. Alíás, eu já não falei que o senhor estava dispensado?
- Falou sim senhor, mas eu estou esperando o senhor me devolver o meu... celular.
- Ah sim, entendi. Bem eu sinto muito, mas ele já foi para a perícia e nem me pergunte quando é que ele volta. Portanto tenha um bom dia e passar bem.
Que situação né.
É claro que isso é só ficção, mas se continuarmos com esse pensamento de justificar pequenos crimes a coisa vai ficar feia. Claro, que eu não tô incentivando ninguém a sai reagindo a qualquer situação de perigo, mas convoco a todos para que fiquem atentos, solicitando o serviço das autoridade competentes e não sejam passivos e coniventes com crimes, vandalismo, discriminação, preconceito ou quaisquer outras atitudes que sejam contrarias a paz, a harmonia e ponham em risco o bem-estar social de nosso país.
Faça um pouco você também.
